03 janeiro 2009

O Que é Vintage?

Resolvi selecionar artigos relacionados ao vintage e transcrevê-los no blog, para que assim possamos pensar o que vem a ser essa moda vintage.
O primeiro artigo selecionado é esse que foi publicado em 01 de outubro de 2008 com o título: Moda retornável, escrito por: Maria Alice Rocha.
Apreciem a leitura:

Moda retornável

Aconteceu no último final de semana em Paris, França, mais uma edição do Salon du Vintage, um evento de moda dedicado aos produtos os quais, definitivamente, parecem que jamais deixarão de ser moda: os ditos vintage. A definição é oriunda da enologia, significa o vinho feito com as melhores uvas, ou seja, de uma safra especial.
Voltando à moda, ou às roupas, a segunda edição do salão em Paris é um desdobramento do sucesso alcançado no já tradicional Mercado de Moda Vintage que ocorre na cidade, também francesa, de Lyon. A importância dessa notícia é a sua natural vinculação com o anúncio do leilão do acervo de arte de Yves Saint Laurent e Pierre Bergé, previsto o próximo ano.
A coleção de arte que a dupla reuniu nos últimos cinqüenta anos é formada por cerca de 700 obras, e estimada no valor de 200 a 300 milhões de euros (entre 540 e 810 milhões de reais). A casa Christie's, responsável pelas vendas, acredita que o montante arrecadado será bastante superior a essa soma. Para alguns especialistas, o evento marcado o período de 23 a 25 de fevereiro de 2009 no imponente Grand Palais, em Paris, já está sendo chamado de a "venda do século" dada às raridades em oferta: peças arqueológicas, arte asiática, renascentista, déco e arte moderna.
Segundo Pierre Bergé, além dos Picasso, Goya, Matisse e Mondrian, até mesmo os móveis de época serão vendidos, e todo o arrecadado será investido na Fundação Pierre Bergé-Yves Saint Laurent, criada em 2002, assim como para o suporte a pesquisas científicas relacionadas com a Aids. A moda perderá um conjunto de obras de arte que inspiraram um dos maiores costureiros franceses, mas certamente ganhará no quesito da responsabilidade social.
Outro leilão bastante esperado já ocorre no próximo domingo (5) também em Paris, vinculado ao salão Rendez-Vous, que nesta edição tem como tema a moda vintage e contemporânea. O martelo será batido para cerca de 400 peças de alta costura, prêt-à-porter e acessórios assinados por grandes nomes como: Yves Saint Laurent, Céline, Christian Dior, Helmut Lang, Emilio Pucci, Alaïa, Kenzo, Chanel, Gaultier, Lanvin, Jean Charles de Castelbajac, Marc Jacobs, Maison Martin Margiela, Hermès, Louis Vuitton, entre outros.
Em tempos que a preocupação ambiental bane o consumo do descartável, nada mais louvável para uma indústria que tem ciclos de vida tão curtos. As roupas para se tornarem roupas usam terras produtivas para gerar fibras têxteis naturais. As fibras manufaturadas vêm de fontes de hidrocarbonetos e muitas vezes fazem uso de processos industriais poluentes para se tornarem roupas.
E essa roupa, gerada com obsolescência programada, normalmente é descartada não por estar rasgada, puída ou manchada, mas simplesmente por ter saído da moda. A valorização do vintage, ou do reuso, dá força para uma nova corrente que vem se tornando tendência entre os estilistas: a moda "récup", um apelido francês para a recuperação e reciclagem daquilo que "naturalmente" seria descarte.
Para os profissionais que expuseram suas criações no último salão do Prêt-à-Porter Paris seguindo essa linha, é o consumidor que está demandando coleções de moda mais ecológicas, mais conscientes. Então, nada mais apropriado que utilizar materiais já existentes, o que já formou uma roupa pode se tornar outra. A peça pode até deixar de existir, mas o material permanece, e a sua história o acompanha.
Já existem criações que aproveitam toalhas de hospitais, uniformes militares, forro de banco de ônibus, e uma infinidade de materiais têxteis resistentes que podem ser reaproveitados. Tudo com "certificado" de origem. A previsão é de que, em breve, comecem a surgir peças "récup" oriundas da transformação de roupas baratas, como aquelas produzidas nos países asiáticos e que tem inundado os armários dos quatro cantos do planeta.
Comprar pelo preço baixo ficou chato, sem graça, sem deslumbre. A velocidade do mundo permanece em ritmo acelerado. A moda passa então a considerar dois opostos: investir num clássico ou reciclar algo banal, careta, transformando em algo mais transado. Em ambos os casos, o reuso, a segunda mão vira palavra de ordem.
Há um velho ditado que parece se encaixar bem no novo espírito do tempo: "Vão-se os dedos, ficam os anéis", que podem se tornar pulseiras ou colares.

Maria Alice Rocha é doutora em moda pela University for the Creative Arts de Rochester, Inglaterra, e professora e pesquisadora de moda, vestuário e consumo na Universidade Federal Rural/PE.

Retirado do site: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3224422-EI6785,00-Moda+retornavel.html