12 março 2009

Metáfora de Liberdade: Leila Diniz



Imagino como tenha sido os anos 70, década em que nasci, as minhas lembranças seguem por um fio de cores vibrantes, rostos morenos, cabelos por cortar e a sensação de que o Rio era o melhor lugar do mundo.

O Rio gozava de ser a capital cultural do país e em Ipanema fazia-se uma revolução comportamental. De lá saíram as primeiras butiques do Brasil , o Pasquim que inovou a imprensa brasileira, Hélio Oiticica e seus parangolés e Leila Diniz. A atriz gozava de um enorme carisma e de uma ousadia ainda maior.

Estamos falando de uma época que a lei dizia o seguinte: não serão toleradas as publicações e exteriorizações contrárias à moral e aos bons costumes (decreto lei n. 1077 de 26/01/1970), sei lá, de repente a sua roupa pode atentar contra à moral e aos bons costumes!

Nesse tempo Leila Diniz não tinha papas na língua, seu único compromisso era com ela mesma, não tinha medo de ser livre.

Ela deu uma entrevista ao Pasquim (n.22, 1969) falando sobre sua vida. A entrevista gravada não passava por nenhum tipo de censura dentro do jornal, somente transcreviam o que estava gravado, porém havia a censura do governo e então os palavrões, que faziam parte do vocabulário de Leila, foram substituiudos por asteriscos, ficando todos muito evidentes. Ela também falou abertamente sobre sua vida sexual.

A repercussão foi enorme, jornais, revistas, TV, todos falavam de Leila. Para ela ficou o prejuízo: contrato rompido pela TV Globo, os militares tentaram bani-la da televisão brasileira e ainda teve que ir à polícia para se explicar.

Com esse episódio Leila Diniz se tornou nacionalmente conhecida e muitas outras Leilas nasceriam desse encontro.

Em agosto de 1971, Leila Diniz, estava grávida e muito feliz. Ela adorava o sol, era "uma mulher solar", foi à praia aquele dia a fim de aproveitar todos os raios solares em seu corpo, foi fotografada grávida com um sumário biquíni e novamente ela chocava a sociedade e mudava o comportamento das mulheres de seu tempo.

Naquele período a moda praia para grávidas era uma batinha costurada à parte de cima do biquíni ou o velho maiô, que era consideravelmente grande, que transformava os mais belos corpos do mundo em balões assexuados. A mulher grávida era imaculada, havia algo de Maria nelas e não um corpo moreno, lindo, sexual, se banhando de sol.

Lembro-me da minha professora de sociologia, Liliane Sobron, me contando que no mesmo ano ela também estava grávida, mas na cidade de Assis, interior de SP, e que ela vestiu um biquíni e foi ao clube da cidade e foi discriminada, mas de forma alguma se intimidou, se sentia um pouco Leila com coragem suficiente para revolucionar a sua vida.

Infelizmente Leila nos deixou cedo demais, sete meses depois do nascimento de sua filha, morreu em desastre de avião quando voltava de um festival de cinema na Austrália, tinha apenas 27 anos. Ela foi sem dúvida uma revolucionária que mudou padrões de comportamento, influenciou gerações, prova disso é que no verão de 1972 as mulheres brasileiras, grávidas, passaram ir à praia vestindo biquíni, exibindo seu corpos solares.


Livros consultados:

Castro, Ruy. Ela é carioca: uma enciclopédia de Ipanema. São Paula: Companhia das Letras, 1999.
Leila Diniz: Filmes, homenagens, Histórias. Centro Cultural Banco do Brasil.